terça-feira, 29 de setembro de 2009

A nova moda dos meninos Bright

Criatividade é o que não falta por aqui. A cada mês os meninos trazem uma idéia nova, e com ela um brinquedo novo.

Há um tempo atrás um dos meninos apareceu usando óculos. Gostamos tanto da idéia que acabamos desenvolvendo um workshop de óculos para todas as outras crianças.

Na mesma semana, desafiando a si mesmos, um dos meninos criou uma cesta de grama, um presente super especial.
Em setembro a moda é hélice de avião. Bom, deixe-me explicar melhor: pega-se uma folha, corta-se suas extremidades de um lado e de outro, e faz-se um furo no meio. Depois, pega-se um galho de árvore, afina-se sua ponta e encaixa-se a folha furada nessa ponta. Finalmente, procura-se a direção do vento. Se não houver vento, basta correr. Bem, com vento ou sem vento o negócio dos meninos é mesmo correr e se divertir!

De fato, viver num lugar como esse no qual não há enlatados para o almoço ou carrinhos à pilha para as crianças força-nos a buscar meios de sobrevivência com o que a natureza nos oferece. Dessa forma, para aqueles que vieram da cidade como eu, acabamos passando por um exercício bastante interessante: desenvolver nossa criatividade.

Um caso Jessicah

Nasasira Jessicah é uma menina de 10 anos que vive numa casinha de palha tradicional, com sua mãe, irmãos e padastro. Jessicah tem sofrido rejeição por parte do padastro que, influenciado por seu irmão e dono das terras e gado onde vivem, tem sido convencido de que essa menina tem atrapalhado a família. Tudo porque a menina não é filha dele, e sim de um relacionamento anterior da mãe dela.

Tudo começou quando Faibe, a mãe da Jessicah, se apaixonou por um garoto na época da escola. Eles ficaram juntos e ela acabou engravidando. Ao descobrir que a menina estava grávida, o pai da criança desapareceu. Sua família, por sua vez, seguindo os costumes de sua tribo, castigou a menina obrigando-a a casar-se com um homem bem mais velho, o atual padastro de Jessicah.

Há cerca de duas semanas Faibe veio à nossa organização procurando por ajuda. A mãe reportou que, juntamente com a filha, estava sofrendo violência doméstica por parte do marido, que a cada dia mais tem pressionado Faibe a tirar Jessicah de casa.

Esperança

A fim de tentar amenizar a situação de violência doméstica, física e psicológica, o coordenador das crianças patrocinadas pela Austrália e eu fomos visitar o esposo da Faibe e fazer-lhe uma proposta/missão: incluir o nome da Jessicah como uma de nossas crianças com maior prioridade para conseguir um patrocinador que financie suas despesas de estudo e moradia na nossa escola. O padastro ficou satisfeito com a proposta e conversará com seu irmão para tolerarem a menina por mais algum tempo. Algum tempo.

Bright Hope School, o coração da nossa organização, hoje atende 355 crianças, sendo que cerca de 140 delas estudam e moram aqui. Para tanto, elas devem pagar trimestralmente o equivalente a R$150,00, que cobre despesas com uniforme, cuidados médicos e alimentação, além do carinho e atenção que raramente recebem em seus lares.

Atualmente, apenas 169 das nossas 355 crianças são patrocinadas, por pessoas físicas dos Estados Unidos e Austrália. Das não-patrocinadas, muitas famílias têm dificuldade para honrar com os pagamentos resultando em desistências, uma vez que a comunidade de Bulanga é extremamente pobre. Ao lado, Jessicah, Faibe e um dos filhos do segundo relacionamento, posando em frente a sua casa (ao fundo). Clique na imagem para ampliá-la.

Casos como o de Jessicah, com suas variantes, são comuns por aqui. Poligamia, alcoolismo, desemprego e falta de perspectivas de futuro trazem para dentro dos lares de Uganda tristeza e doenças. A pobreza por aqui certamente é mais espiritual que econômica.

Nesse momento estamos trabalhando na reestruturação do website da organização, e criaremos uma área exclusiva na qual o visitante poderá conhecer nossas crianças vulneráveis, como a Jessicah, e escolher uma para patrocinar. Mesmo sem o website estar pronto, queria compartilhar com vocês o caso dessa menina, e se você sentiu no coração uma vontade de ajudá-la basta me procurar. Espalhe a oportunidade de ser parte de um futuro com muito mais brilho e esperança, um valor inestimável.

Os tomates estão chegando!

Finalmente a agenda das aulas práticas de agricultura saiu do papel. Todos os sábados, das 9h às 10h uma turma visitará nosso jardim de tomates para praticar e também ouvir uma lição Bíblica relacionada ao tema.

Nesse fim de semana tivemos a presença da primeira turma que, bastante engajada, contribuiu de forma animadora para o cultivo do nosso jardim. É interessante como a natureza nos ensina tanto, e como podemos comparar nossas próprias vidas a árvores e seus frutos, folhas secas e as pragas ao redor.

Usando como base Gênesis 2:15 e Salmos 1:1-3, fizemos uma reflexão da importância do cuidado do nosso meio ambiente desde o início da criação e que, tal como uma planta, precisamos cuidar para termos um crescimento sadio e, conseqüentemente, gerar bons frutos onde quer que estejamos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Hakuna Matata parte final - África selvagem: Lakes Naivaisha e Nakuro

Os dois últimos dias da minha aventura pelo Quênia foram esplendidos. E a decisão de ter mudado o roteiro e incluído o Lake Naivaisha, roteiro não tão popular, foi bastante acertada.

O quê que o Naivaisha tem? TEM!

A princípio a idéia de andar de bicicleta pelo Parque me frustrou. E mais ainda quando soube que tinha que pagar à parte pelo aluguel bicicleta. Poxa, como muzungo por aqui sofre viu!

Bom, ao lado da minha colega Taianesa que acabara de conhecer, pegamos a bicicleta e saímos a pedalar pelo Parque. Logo na entrada a frustração se tornou em admiração.

Já imaginou pedalar num lugar com pouquíssimos turistas, montanhas totalmente especiais e, ainda, animais selvagens cruzando o seu caminho? Foi essa a experiência que tive por lá. Foram quatro horas de bike, admirando a paisagem ao meu jeito. Diferentemente dos carros de safári, a velocidade é controlada por mim. Eu paro onde eu quizer, quando eu quizer e para admirar o que eu quizer.

Falando em parar...

Ok, a história estava super bonita né? Desculpe cortar agora, mas essa parte do passeio também não teve como esquecer. Aliás, vai uma dica: escolha bem seu parceiro de bike: é muito chato quando as pessoas não têm o mesmo ritmo, e têm que ficar esperando pelas outras. Confesso que não sou uma atletaaaa, mas não fiz feio igual minha colega Taianesa viu... Atrasar nosso circuito por cerca de 1 hora por causa dela e perder de ver as águas termais foi doído, mas quando estamos em dupla, temos que ajudar um ao outro né, fazer o quê?

Mas eu acho que o que a atrapalhou foi o chapéu de praia que ela estava usando. Deveria estar pesado.


Respeitável público... Com vocês: LAKE NAKURU!

Minha viagem não poderia fechar com uma chave de ouro mais reluzente. Finalmente cheguei a um dos locais que eu mais queria visitar: o lago dos flamingos cor-de-rosa.

Imagine um lago muito,muito extenso e em toda a sua costa repleta de flamingos cor-de-rosa, entoando um som meio de pato, meio de ganso, um sol sereno e um lago azul. Essa é a composição do cenário do lago. Você pode ficar parado lá por muito tempo, em silêncio, somente ouvindo o som dos flamingos, vendo os pelicanos voarem...
Para os mais românticos, até o cheiro de excremento de peixe dos milhões de pelicanos é sensível. Aliás, aquele cheiro chega a entrar na garganta de tão forte, mas o cenário realmente é deslumbrante.

Estava tudo tão lindo, tão romântico... Aliás, mais tarde eu fui descobrir que estava compartilhando o carro com um casal Francês em lua-de-mel.Mas, como estamos na África, é claro que o romantismo logo se tornaria em aventura de novo. Aliás, em frio na barriga...



O rinoceronte estressado

“Olha, um black rhino ali!”. Acho que a emoção de ver um rinoceronte preto foi tão grande, que fez nosso motorista acelerar para cima do animal. E o animal, para cima de nós, na sequência.

Destemidos e bastante brabos, os rinocerontes pretos não temem o homem e, com sua força, podem derrubar um carro sem muito esforço. É óbvio que não ficamos lá para conferir, e no momento de fuga eis que essa foto saiu da minha máquina.
















Quando o animal se acalmou, consegui ainda tirar mais algumas fotos, admirando a pose que mais demonstra sua força.














Tirando esse incidente, o restante da manhã foi maravilhoso, pois pude ver animais que até então não tinha visto nos outros Parques: rinoceronte branco, uma porção de babuínos e, ainda, as hienas, predadoras dos flamingos.


















Nessa foto só faltou a branca de neve saindo do meio das árvores... rs
No fim do dia, voltamos à capital Nairobi, onde peguei meu busão e voltei à vida de peão, após 14 horas de excursão!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Hakuna Matata parte II - África selvagem: Masai Mara


Agora vamos à parte que os aventureiros de plantão devem estar super curiosos para saber: o diário dos meus safaris*.
clique nas imagens para que elas aumentem de tamanho...

Bom, quando tudo começou eu pretendia passar quatro dias viajando: dois em um dos mais famosos Parques Nacionais de vida selvagem da África, Masai Mara, e mais dois no lago dos Flamingos, Lake Nakuro. No fim, acabei adicionando mais um dia, e visitei mais um Parque Nacional que, apesar do nome Hells Gate, me proporcionou uma das experiências mais intensas com a natureza durante esta viagem.

Assim como eu, o outro trainee, o Tomoya, queria fazer uns safaris antes de voltar para seu país. Então, começou a fazer pesquisas de preços e condições com agências locais. Aliás, com essas agências consegue-se chegar a uma economia enorme, no meu caso 300% em relação às do Brasil, sem perder abrir mão do conforto de dormir em cama, banho quente e três refeições.

Entrei em contato com a agência e fechamos meu pacote. E então, no sábado 22 de agosto, a aventura começou...

O primeiro dia

Às 7h30 o motorista estava na porta do acampamento para me buscar. Ao chegar no escritório em Nairobi efetuei o pagamento. O restante do grupo chegou: um casal português (finalmente voltei a falaNegritor português por uns dias), três amigas inglesas e uma voluntária como eu.

De Nairobi para Masai Mara foram 4h30 de viagem, parte em estrada pavimentada, parte em estrada acidentada... E, para nossa surpresa e alegria, há cerca de 1 hora do Parque, já vimos uma girafona atrevessando a estrada. Aliás, a vida selvagem no Kênia é riquíssima. Mesmo no caminho para o Lake Nakuru, meu último roteiro, vi vários babuínos... Sem falar nas zebras... Elas estão por todo lado, como se fossem nossos burrinhos no nordeste...

Masai Mara National Park

Às exatas 16h do mesmo sábado saímos para um passeio de tarde. Logo na entrada no Parque, vimos uma porção de zebras, diferentes tipos de gazelas e os Wild Best, o que creio serem os gnus. Aliás, descobri que a Fera do “A bela e a fera” é um deles!

Por falar em Fera, entre os meses de julho e outubro é quando ocorre o período de imigração. Os wild bests deixam o Parque Nacional do Serengueti, em Tanzânia, por conta da seca, e vêm aos milhares para o Quênia. Resultado: imagens lindas dos animais em fila caminhando incansavelmente, colinas repletas de wild bests e, se você estiver na hora certa e no lugar certo, você ainda tem o privilégio de vê-los cruzando o rio repleto de crocodilos. Se você estiver ainda na hora mais que certa, você poderá ver um deles sendo devorado por um crocodilo. Por pouco eu não consigo ver até esta última cena.

No meu segundo dia, quando fizemos o passeio durante o dia todo, os animais estavam cruzando o rio, juntamente com algumas zebras que pararam ali para beber água. Cerca de 4 minutos após a nossa chegada, algo curioso aconteceu: as zebras, à frente dos gnus, começaram a ter um comportamento estranho. Os wild bests pararam de descer a colina. Um crocodilo estava se aproximando de algum lado do rio. Imediatamente, comunicando-se uns com os outros, os animais correram de volta para a colina, deixando o rio totalmente vazio e desolado. Segundo o motorista do nosso carro, naquele dia talvez os wild bests não voltariam para cruzar o rio.

Foi também nesse dia que finalmente girafas em grupo, mas bem de longe, elefantes, bem de pertinho, e também o leão, bem de pertinho. Opa, bem de pertinho?

O rei leão

Era por volta das 10h quando encontramos o leão*. E, para minha frustração ele não rugiu nenhuma vezinha... É que quando chegamos ele estava esbaforido e respirando até com dificuldade: tinha acabado de caçar e trazer a presa, um búfalo para ninguém botar defeito. Deve ter sido uma caçada e tanto!

Para nos deixar um poquinho mais felizes, ele fez o favor de sair de um arbusto e ir para o outro, passando na frente do nosso carro, calmamente.

Uma das cenas mais lindas da viagem

Eu já havia ouvido falar nas sheetas, e até me lembro de tê-las visto correndo no National Geographic, mas admirar sua elegância e beleza tão exuberantes de perto foi sem palavras.

Vimos três animais: a mãe e os dois filhotes que, ao contrário do leão e das leoas que encontramos mais tarde com seus filhotes, estavam bem acordados. Iam de um lado para o outro. E sempre que paravam, parecia que estavam posando para nós. A fêmea gostava de parar em cima das colinas e ficar observando os animais no horizonte, suas caças potenciais. Esses momentos foram de deixar qualquer um de queixo caído. Uma pena que minha internet não me permita postar mais imagens, mas selecionei as duas que mais gostei para compartilhar com vocês.
Pássaros exóticos, hipopótamos e outros mamíferos de médio e grande porte fizeram a alegria do restante da nossa tarde. Nesse dia o almoço foi ao estilo “pic nic” e aconteceu no meio de um lugar qualquer no Parque. Naquele dia eu estava tão entusiasmada com tudo que nem pensei na possibilidade de algum animal estar por perto...

A tribo Masai

Desde que decidi ir para Masai Mara prometi a mim mesma que teria uma experiência com a tribo Masai. E cumpri. No fim do dia a agência me apresentou um Masai e topei conhecer sua gente, que mora a metros de onde eu fiquei. Para alguns, os 1000 Ksh que temos que pagar para entrar na Vila, o equivalente a R$25,00, assusta. Segundo o guia Masai, o valor é revertido em prol da comunidade. Para mim que já estava lá, investi mesmo, preferindo economizar o ingresso do cinema quando voltar ao Brasil a perder essa oportunidade que nem sei se voltará.

Uma vez lá dentro ele me explicou os costumes, crenças e dia-a-dia. As mulheres e homens ainda apresentaram para mim sua dança típica, e finalmente conferi o que mais estava curiosa para ver: o quão alto os homens massais pulam. Eles são peritos em pulo durante sua dança, um gesto usado para ajudar no processo digestivo, pois carne e leite são os únicos pratos da maior parte dos Massais.

Ao final, conheci o Masai Marketing, onde pude apreciar sua caprichosa arte e adquirir uma verdadeira Shuka* Massai!

Ahhhhhhh Keniaaaa...
Os Walt Disney que me perdoem, mas o nascer do sol do O Rei Leão não chega perto da beleza explêndida de vê-lo fora das telinhas. Às exatas 6h47 ele desponta no horizonte. Quando a gente chegou, às 6h43, nadinha. De repente ele começa a despontar, e como naqueles vídeos em modo acelerado ele surge magnífico. É de tirar o fôlego...

As sheetas novamente deram o ar de sua graça, um ou outro pássaro diferente, fazer as malas e trocar de acomodação. À tarde, enquanto parte do grupo voltou para Nairobi, o casal português e eu fomos para Lake Naivaisha.

*...Um pouco de Kiswahili

Jambo! = Olá!

Hakuna Matata: do Kiswahili, idioma oficial do Quenia e de Tanzânia, “sem problema”.

Safari = passeio.

Simba = leão.

Shuka = o cobertor que os Massais usam. Muito além de um artigo de vestuário, sua cor vermelha em diversos modelos e variantes garante a segurança dos Massais na savana, uma vez que é temida pelos leões.